Mudanças na relação trabalhista ameaçam a era dos bens baratos

Notícias • 10 de Agosto de 2023

Mudanças na relação trabalhista ameaçam a era dos bens baratos

Jovens, em geral, não querem trabalhar em fábricas e são atraídos por melhores condições de trabalho no dia a dia.

O local de trabalho tem janelas que vão do chão ao teto e um café que serve chá verde, além de aulas gratuitas de yoga e dança. Todos os meses, os trabalhadores se reúnem em sessões de formação de equipes para beber cerveja, dirigir karts e jogar boliche.

Isso não é o Google. É uma fábrica de roupas do Vietnã. A Ásia, o maior chão de fábrica do mundo e de onde saem grande parte das coisas que o resto do mundo compra, está enfrentando um grande problema: seus jovens, em geral, não querem trabalhar em fábricas.

É por isso que a fábrica de roupas tenta deixar suas instalações mais atraentes, e porque sinais de alerta estão soando em empresas ocidentais que dependem da mão de obra barata da região para produzir bens de consumo acessíveis.

Esse é o mais novo teste ao modelo da manufatura globalizada, que nas últimas três décadas forneceu uma quantidade enorme de bens produzidos a baixos custos para consumidores do mundo. Os americanos, acostumados à moda barata e às TVs de tela plana, poderão em breve lidar com preços maiores. “Não há mais nenhum lugar no planeta capaz de dar a você o que você quer”, diz Paul Norriss, o cofundador britânico da fábrica do Vietnã, a UnAvailable, sediada na Cidade de Ho Chin Minh. “As pessoas terão de mudar seus hábitos de consumo e o mesmo vale para as marcas.”

Os trabalhadores na faixa dos 20 anos – força de trabalho tradicional da indústria de vestuário – rotineiramente desistem dos programas de treinamento de suas empresas, diz Norriss. Aqueles que permanecem, muitas vezes trabalham por apenas alguns poucos anos. Norris espera que aumentar o coeficiente de ‘lugar bom para trabalhar’ possa fazer a diferença. “Todo mundo quer ser um Instagrammer, um fotógrafo, um estilista ou trabalhar em um café”, diz.

Em resposta à crise, as fábricas asiáticas tiveram que aumentar os salários e adotar estratégias às vezes caras para reter trabalhadores, desde melhorar os preços nos refeitórios a construir jardins de infância para filhos de funcionários.

A fabricante de brinquedos e videogames Hasbro disse este ano que a escassez de mão-de-obra no Vietnã e na China elevou os custos. A Mattel, fabricante da boneca Barbie, que possui uma grande base de produção na Ásia, também está enfrentando custos trabalhistas mais altos. As duas companhias aumentaram os preços de seus produtos. A Nike, que fabrica a maior parte de seus calçados na Ásia, sinalizou em junho que os custos de seus produtos subiram devido às maiores despesas com mão de obra.

Na década de 90, a China e depois outros centros industriais asiáticos começaram a se integrar na economia global, transformando nações de trabalhadores rurais pobres em potências industriais. Bens duráveis como geladeiras e sofás ficaram mais baratos.

“As pessoas terão de mudar seus hábitos de consumo e o mesmo vale para as marcas”

Agora, essas nações manufatureiras estão enfrentando um problema geracional. Os trabalhadores mais jovens, mais instruídos do que seus pais e veteranos do Instagram, TikTok e outras redes sociais, estão decidindo que suas vidas não deveriam transcorrer dentro das paredes de uma fábrica.

As mudanças demográficas estão desempenhando um papel. Os jovens asiáticos estão tendo menos filhos do que seus pais, e em idades mais avançadas, o que significa que eles sofrem uma pressão menor para ter uma renda estável quando estão na faixa dos 20 anos.

O problema é grave na China, onde a parcela da juventude urbana desempregada chegou a 21% em junho, mesmo com as fábricas sofrendo com a falta de mão de obra. Empresas multinacionais vêm transferindo a produção para países como Malásia, Indonésia, Vietnã e Índia. Donos de fábricas nesses lugares afirmam também estar lutando para atrair os jovens.

Os salários nas fábricas no Vietnã mais que dobraram desde 2011, para US$ 320 por mês – três vezes a taxa do aumento nos EUA, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho das Nações Unidas. Na China, os salários nas fábricas aumentaram 122% entre 2012 e 2021, o último período com dados da ONU disponíveis.

No passado, os fabricantes podiam simplesmente mudar para destinos menos caros. Mas isso não é tão fácil hoje. Há países na África e sul da Ásia com grandes reservas de mão de obra, mas muitos são politicamente instáveis, ou carecem de boa infraestrutura ou forças de trabalho treinadas. Marcas de roupas foram prejudicadas quando se expandiram para Mianmar e Etiópia, apenas para terem suas operações interrompidas por distúrbios e guerra civil.

Bangladesh tem sido uma base confiável para a produção de roupas, mas políticas comerciais restritivas e portos congestionados vêm impedindo o país de fazer muita coisa além disso.

A Índia tem uma população enorme e empresas em busca de alternativas à China estão crescendo. Mas os gerentes de fábricas começaram a se queixar das dificuldades para reter trabalhadores jovens. Muitos preferem a vida no campo apoiada por programas de bem-estar do Estado, ou escolhem trabalhos temporários nas cidades, do que viver em dormitórios de fábricas em centros industriais. Engenheiros treinados trocam as fábricas por empregos na área de Tecnologia da Informação (TI).

Os proprietários de fábricas asiáticas estão tentando deixar os empregos mais atraentes, inclusive subsidiando creches e financiando programas de treinamento técnico. Alguns estão mudando fábricas para áreas rurais, onde as pessoas estão mais dispostas ao trabalho manual, mas isso os coloca mais longe dos portos e fornecedores e os força a se acomodar à vida rural, em que trabalhadores costumam se ausentar do trabalho durante as colheitas.

O cenário trabalhista era muito diferente duas décadas atrás, quando encontrar trabalhadores era tão simples quando abrir os portões da fábrica e observar o fluxo de entrada das bicicletas.

Em 2001, a Nike informou que mais de 80% de seus trabalhadores de fábrica estavam na Ásia, e o trabalhador típico tinha 22 anos, era solteiro e havia sido criado em uma fazenda. Hoje, a idade média dos funcionários da Nike na China é 40 anos, e no Vietnã, 31, em parte porque os países asiáticos estão envelhecendo rapidamente.

A Maxport Limited Vietnam, uma fornecedora da Nike fundada em 1995, viu a concorrência por trabalhadores aumentar. Ela ampliou o treinamento para que trabalhadores jovens cresçam na empresa e se tornem supervisores. Mesmo assim, ainda luta para atrair os jovens. Ela encerrou um programa de treinamento para graduados do ensino médio em parte porque poucos deles aceitavam os empregos após deixarem a escola, diz o diretor sênior de conformidade Do Thi Thuy Huong. Cerca de 90% dos funcionários da Maxport têm 30 anos ou mais.

Quando as fábricas asiáticas se automatizam, muitas têm problemas para encontrar trabalhadores capazes de operar máquinas avançadas. Os gerentes afirmam que poucos jovens têm interesse em aprender engenharia mecânica e aqueles que o fazem saltam para outras profissões.

Fonte: Valor Econômico
César Romeu Nazario
AOB/RS 17.832

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